domingo, 4 de outubro de 2009

Três cerejinhas?



"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "

(Pra você, Jackie)

Ela tentou conter a vontade de rir, como alguém que luta bravamente contra a tentação de um vício. E aquele era o pior de todos : se apaixonar. Disse a ela tudo que sempre neguei a mim mesma: o amor dá um outro rumo às nossas vidas, faz os problemas parecerem bobagens, altera a nossa percepção de tempo, de mundo, de espaço, é rejuvenescedor etc.

Talvez o meu papel de amiga exija que eu avise que, na verdade, o amor (seja lá o que isso quer dizer) é bastante traiçoeiro, egoísta e potencialmente destrutivo, mas seria crueldade. Ela parecia outra pessoa. Parecia estar feliz! Acho que ela tinha o direito de sentir isso. E no mais, quem sabe não é dessa vez que ela finalmente vai encontrar as três cerejinhas?

(Essa história de cerejinhas não é minha, é de uma música do Conor, Waste of Paint, em que ele diz "Will my number come up eventually? Like love's some kind of lottery, where you scratch and see what's underneath: it's 'sorry'...just one cherry...or 'play again'... get lucky!".).

Apesar da minha pessimista desesperança compartilhada com Conor Oberst, eu insisto em achar que o amor pode, sim, salvar vidas. Pelo menos a dela, pois eu não acredito em milagres. A verdade é que ver nela aquele tipo de sentimento que eu deixei de me permitir há tantos anos me deixou com saudades da vida de antes. Há quanto tempo eu não sou capaz de me apaixonar de verdade por alguém do meu ambiente escolar? Alguém real, que eu veja todos os dias? Talvez se isso tivesse acontecido na faculdade, eu não teria reprovado em Elementos de Linguistica...

Já considerei a hipótese de ter criado pessoas ideais e me corresponder com elas. Por isso nada acontece apesar de elas serem tão perfeitas. Mas essa é só uma das "alucinações" que surgem quando não tenho o que fazer.

Estou feliz por ela. Acho que quando a gente consegue se aproximar de alguém da forma como eu e ela tentamos nos aproximar uma da outra- especialmente nesse mundo louco -, somos quase capazes de sentir a mesma coisa. Se eu me esforçar um pouco, sou capaz de vê-la observando-o na sala de aula, com o sol entrando pela janela, com o barulho daquele passarinho da aula de literatura e das tardes de pv (ela sabe qual é). Sou capaz de sentir aquele típico frio na barriga, sintoma de que estamos vivas, a cada vez que ela o encontra, por acaso, no corredor. Sinto falta daquela crença de que todo dia será diferente e "quem sabe não é hoje que as coisas vão acontecer? "

Recentemente pensei ter encontrado minhas três cerejinhas, mas sempre aparece alguém que me rouba a terceira. Ou talvez eu tenha roubado duas de alguém...a gente nunca sabe.

Conversamos por uns 10 minutos na esquina do trabalho e cada movimento que ela fazia denunciava sua alegria, sua esperança. Foi aí que eu percebi que não importa quem somos, o que pensamos da vida, no que acreditamos...todos nós queremos a mesma coisa: amar e ser amado.

Mesmo eu, com todo o meu pessimismo, com toda minha conspiração, minha amargura, minhas teorias que tentam provar que o amor é mentira, tenho esperanças de mudar um dia. É aquela coisa de afirmar algo justamente por negá-lo em excesso. No fundo, eu também só espero amar e ser amada. E pior: espero que isso seja suficiente.

Jackie, se eu soubesse o que te dizer, como fazer ele gostar de você, acredite, seria a pessoa mais rica e bem sucedida do mundo. Mas eu não sei. Eu só acho que o amor é justamente caminhar sobre ovos no escuro. Mas acho que mais importante que a conquista em si é esse momento que você está vivendo. É sublime (conceitos kantianos via Pasta rsrs) ver o poder que a simples existência de uma pessoa pode exercer sobre nossas vidas. E ao mesmo tempo, é gratificante ver como o amor transforma vários aspectos de nossas vidas e, aos poucos, tudo se encaixa como um quebra-cabeça. Queria escrever coisas bonitas, coisas que te dessem coragem, inspiração, mas no momento meu coração anda muito fragmentado para esse tipo de coisa. O que posso fazer é desejar boa sorte. Afinal, o amor é mesmo uma loteria, né?

2 comentários:

Mayara Novais disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mayara Novais disse...

Toda garota busca o príncipe!E na procura por ele conhece sapos, que talvez a deixem desencantada, mas de qualquer forma sempre há resto de esperança...Quem sabe o próximo seja ele(é o que nós pensamos)...Sinceramente...acho que ele existe sim!!xD