domingo, 20 de julho de 2008

Memórias de infância

Ceci: Dri, vc gostava da Barbie?
Dri: Sim, adorava. Mas só tinha uma.
Ceci: Ah, eu tinha um monte de Barbies. Tinha até o Ken.
Dri: Vc tinha o Ken??? Que tudo!!!
Ceci: Bom, não era bem um Ken...na verdade, era uma Barbie do Paraguai que eu cortei os cabelos e vesti uma roupa de homem.
(risos).
Ceci: Vc gostava de Barbies, Déia?
Déia: Sim. Cortava as cortinas da casa da minha avó para fazer vestidos para elas.
(risos).
Déia: Na verdade, eu costumava desmontar minhas Barbies e enterrá-las no quintal.
(silêncio)
Alguém: Credo, Andréa.

Dercy Gonçalves is dead. Boo hoo…

Sinto pena dela. Não por ter morrido, mas por ter vivido tanto anos.
É engraçado ver do que a esperança humana é capaz: a morte é a única certeza que temos nessa vida, mas temos sempre esperança de que não teremos que encará-la.
A morte de alguém costuma ser sempre um acontecimento triste. Mesmo aqueles “sem nome” que moram nas ruas devem ter alguém sentindo sua falta e esperando ansiosamente pelo dia em que voltarão para casa, querendo acreditar que eles estão por aí, tentando consertar a vida e voltar como uma pessoa melhor. É melhor pensar isso do que ter que encarar a triste realidade de que, provavelmente, eles foram enterrados numa cova rasa e de curta estadia.
Parece-me que todos os esforços da humanidade têm sido direcionados à grande conquista de se viver alguns anos mais. Embora seja perfeitamente entendível que as pessoas queiram viver mais, às vezes me pergunto se viver tanto assim realmente faz as pessoas mais felizes. Às vezes eu acho que viver tantos anos faz com que nos esqueçamos de quem realmente fomos, fazendo os bons momentos de nossas vidas tão distantes que começamos a nos perguntar se realmente existiram.
Eu, por exemplo: ainda tenho 22 anos e me pergunto se é mesmo verdade que fui tão feliz quando tinha 15, 16, 17 anos. Provavelmente, quando envelhecer, vou ficar pensando que era extremamente feliz aos 22, mas não tinha consciência disso.
Às vezes acho que morrer no auge de sua vida, de sua juventude, é a melhor forma de morrer. Vejo a vida como um gráfico: existe um ponto em que a gente apenas sobe, até alcançar a felicidade. Mas, dali para frente, é só queda. Acredito que seja muito mais interessante morrer conhecendo apenas o lado bom da vida, em vez de viver com o lado sombrio de se decepcionar com pessoas, com a condição humana, com a morte de quem amamos e, principalmente, com o vazio que a vida se torna com o passar dos anos. Uma atitude um tanto egoísta, eu sei. Afinal, se a morte dos outros é o fato mais triste na vida de alguém, devo considerar que tenho “outros” que sentirão minha falta e que terão a sensação de terem perdido alguma coisa, além daqueles que morrerão comigo. Mas, vendo a outra face do egoísmo, as pessoas ainda têm esperança e insistem em acreditar que o futuro pode ser melhor. Claro que elas não fazem muito para que realmente seja melhor, mas a esperança tem movido a humanidade desde sempre, tornando meu egoísmo desimportante. Então, acho que estamos quites.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Cinza

Nunca gostei dessa cor. Nunca comprei uma roupa dessa cor. Nem acessórios, nem cobertores, nem cadernos e na minha caixa de lápis de cor, o cinza permanecia ali, firme, completo, inteiro, quase nunca usado. Enquanto das outras cores restavam apenas tocos de lápis (que eu mal conseguia segurar na hora de colorir alguma coisa), eu evitava trazer o cinza para o meu frágil mundo de papel.

Apesar do meu esforço, a imponência do lápis cinza parecia começar a se revelar, escrevendo e colorindo a minha vida, infiltrando-se nela enquanto eu crescia. Então eu comecei a gostar dos dias nublados, dos clipes em preto e branco, das roupas com listras pretas e brancas, e das pessoas brancas enfiadas em roupas pretas.

Assim como o cinza vaga entre o limite extremista do branco ou do preto, eu vago entre o limite do ser e o não ser: tenho inteligência masculina e traumas femininos; sonho com a felicidade, mas cultuo a minha tristeza, como se ela me fizesse uma pessoa mais nobre; sou frágil, mas profunda demais para ser resgatada de dentro de mim; sou teimosa, ao mesmo tempo que sou insegura; sou eu, ao mesmo tempo que quero ser o outro; sou a verdade que se revela através da mentira; a tênue linha entre o amor e o ódio; entre a bondade do perdão e a justiça da vingança; a esperança das tardes de maio e as saudades das noites de verão; prego a multiplicidade do amor, mas sou fiel; uma pessoa cheia de sonhos, mas incapaz de torná-los realidade por achar que o mundo seria cruel demais com eles; reveladora dos outros, mas um segredo para mim mesma; defensora do amor, mas incapaz de realmente amar; alguém que não consegue enxergar a barreira entre o sonho e o real; sou a sensação de morte ao sentir o choque com a vida; o medo da vida maior que o da morte; nem o homem, nem a mulher; nem o bom, nem o ruim. Apenas uma hipocrisia muito grande que vem à tona num momento de confusão. Apenas algumas palavras tolas que tentam explicar uma realidade atordoada e inconcebível. Apenas uma pessoa que se apaga gradativamente entre a queda do ser ao não ser. Tornando-se essa coisa amorfa, inexpressiva, ambígua, perdida. Apenas a cinza de alguém que poderia ter sido.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O dia mais triste da semana...

Ontem. Pensei que fosse chorar um rio. Um dia desses, senti que ia morrer, e o pior: não tive medo. Pelo contrário: tive vontade de ir, quem sabe lá eu veja as coisas de outra forma? Quem sabe lá o impossível aconteça? Quem sabe lá a vida exista? Sinto falta de sonhar com coisas boas...com as coisas da vida que me são negadas. Sinto saudade. Do quê? Não sei. De mim, talvez. De um tempo em que tudo era mais simples, fácil e bonito. Cada vez mais tenho perdido a vontade de mudar, de querer fazer alguma coisa. Agora, sinceramente, nada mais importa. Nada mesmo.

Ah, vou colar aqui uns trechos de Beijar o Céu, livro que estou lendo (e que é mto bom, por sinal):

"Melancolia é a fusão sofisticada de dois sentimentos contraditórios. É uma beleza que bate fundo, ou uma mágoa doce. Qualquer um que tenha idolatrado sua dor, tentando prolongá-la, brincando com a idéia de exacerbá-la; qualquer um que tenha sido levado a demorar-se dentro dela, mesmo quando já pudesse estar recuperado há muito tempo, preferindo a companhia de fantasmas à falta de sonhos da sociabilidade cotidiana, qualquer pessoa nessas condições entende a melancolia."

"Morrissey sempre viveu a respirou melancolia, sempre endeusou em segredo o abismo entre si a pessoa amada, a diferença que torna possível amar, mas ilusório possuir, mero engano. Assim, no final, somos todos amantes não correspondidos. E a melancolia é o motivo por que ele valoriza e mantém obsessivamente aberta antigas feridas."

"Essa recusa em se tornar responsável e motivado, em conseguir um trabalho, em incorporar a brutalidade e o desencanto previstos num emprego “para juntar dinheiro”. Essa recusa em ser conivente com a falta de sonhos que é a vida adulta, chegando ao duvidoso ponto de se apegar teimosamente a um estado de insatisfação eterno."

Parece que não sou a única. Que bom. Quem sabe eu encontre alguém que etsteja procurando o mesmo...

PS: Eu realmente gostaria de saber quem é o seu "você".